Você foi e me deixou cheia de vazios.
O banco do carro que ficava apertado, voltou pra casa vazio. Minha mão não achou sua perna pra segurar, nesse novo espaço infinito.
Na mesa da sala, a cadeira do meu lado almoçou vazia. Seu prato, vazio de comida, foi levado da mesa. Virei pra te olhar e lá, de novo, só tinha vazio.
Meu quarto tava arrumado da nossa bagunça. Você levou todas as suas roupas, os seus anéis, a sua escova de dente. Você levou tanta coisa. Só ficou espaço. Tanto espaço. Tanto vazio.
Na varanda, a rede tava vazia e me coube desapertada. Um vento frio levou, por entre meus cabelos, o teu calor amassado que eu guardei de ontem. Olhei prum lado - cadeira vazia. Olhei pro outro -...
...as digitais que a gordura dos teus dedos deixaram no vidro. E eu vi o vazio das tuas mãos, do teu cheiro, do teu colo, do teu sorriso...
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Você foi e me deixou com a sua falta.
Os espaços engordaram e eu me sinto pequena, sozinha no meio deles. Eu choro como se, de tanta água salgada, um oceano pudesse preencher. Não preenche. Continua vazio.
Eu não sabia que vazio pudesse pesar tanto.